Bem vindos ao Varal da Poesia

O Varal da Poesia é um projeto que visa promover a cultura brasileira em forma de poesia. É um instrumento de identidade do povo brasileiro, resgatando nossas raíses. Podendo assim aprimorar, incentivar e enriquecer a cultura brasileira por todo o planeta. O Varal da Poesia, é o acúmulo de anos de trabalho árduo no incentivo da cultura brasileira no exterior em tempos em que a cultura brasileira despontava lentamente em pontos isolados dos Estados Unidos da America. É o resultado e realização de um sonho em poder promover a cultura brasileira para todo o planeta. Envie suas poesias, poemas, crônicas, contos, ensaios, duetos, cordel, cirandas, frases, prosas, sonetos, trovas, cartas, acrósticos, cartas… para avaliação incluindo dados do autor. Esperamos contar com a honestidade do autor respeitando os direitos autorais e enviando obras de sua propria autoria . O Varal da Poesia nao se responsabiliza pela autenticidade de obras enviadas.varaldapoesia@gmail.com

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Meu coração tardou - Fernando Pessoa


Meu coração tardou. Meu coração
Talvez se houvesse amor nunca tardasse;
Mas, visto que, se o houve, houve em vão,
Tanto faz que o amor houvesse ou não.
Tardou. Antes, de inútil, acabasse.

Meu coração postiço e contrafeito
Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido,
Talvez, num rasgo natural de eleito,
Seu próprio ser do nada houvesse feito,
E a sua própria essência conseguido.

Mas não. Nunca nem eu nem coração
Fomos mais que um vestígio de passagem
Entre um anseio vão e um sonho vão.
Parceiros em prestidigitação,
Caímos ambos pelo alçapão.
Foi esta a nossa vida e a nossa viagem.

sábado, 9 de julho de 2011

Poema Brasileiro - Ferreira Gullar



No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade

antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade

(1962)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Jorge Amado

"Na realidade, o tema da infelicidade tem engendrado
montanhas de livros horríveis,
umas masturbações insuportáveis." -Jorge Amado

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O poeta e o mar - Coleção Nova História da Música Popular Brasileira - Jorge Amado





Amizade de toda a vida

Não sei, não recordo quando e onde conheci Dorival Caymmi pela primeira vez e pela primeira vez rimos juntos nossa alegria. Foi, com certeza, na Bahia, antes da partida do clássico ita, levando-nos – ao aprendiz de compositor e ao aprendiz de escritor – para tentar exercer nossos ofícios no Rio. Naquele tempo, quem quisesse um lugar ao sol tinha de começar pelo sacrifício de sair de sua terra, a terra da Bahia, onde éramos livres adolescentes nos mercados e nas praias. Só no Rio havia ambiente e oportunidade.

Na praia de Itapuã, nas malícias do Rio Vermelho, nas ladeiras da cidade antiga cresceu o menino Dorival, filho de Seu Durval, modesto funcionário estadual, bom de violão e no trago. Cresceu assim o moço Caymmi, na pesca, na serenata, na festa de bairro, no samba de roda, nos terreiros de santo, vivendo cada instante de sua cidade e de sua gente, alimentando-se de sua realidade e de seu mistério, preparando-se para ser seu poeta e seu cantor. Livre coração e o desejo de criar. A música popular brasileira não era ainda assunto de gazetas, revistas e festivais. O moço baiano, no entanto, não desejava nem o título de doutor nem o emprego público prometido, queria tão-somente compor e cantar. Teve de partir para ganhar a vida difícil.

Naqueles idos de 1936 o mundo era nosso nas ruas do Rio de Janeiro, lá se vão mais de 30 anos. Uma canção que fizemos juntos naquela época, É doce morrer no mar, tirada de uma cena de Mar Morto, continua popular até hoje e pode-se mesmo dizer: cada vez mais. Aliás, eis uma das características fundamentais da música de Caymmi: sua permanência, sua constante atualidade.

Sendo seu tema a Bahia, sua vida, seu povo, seu drama, sua luta, seu mistério, sua poesia, seus amores, a morena de Itapuã e as rosas de abril, Iemanjá e o vento do oceano, a jangada e o saveiro, o mundo da Bahia, não há uma frase sua, uma única, de música ou poesia, que seja circunstancial, que derive da moda, de uma influência momentânea.

Não compôs demais, ao sabor do sucesso e da novidade. Cada música sua é inspiração verdadeira e experiência vivida, é seu sangue e sua carne, é sua verdade. Uma será mais bela, outra mais profunda, aquela mais fácil, mas nenhuma resulta da busca do sucesso ou do aproveitamento de qualquer circunstância.

Caymmi leva meses e meses trabalhando cada uma de suas músicas e letras, ao sabor do tempo e da preguiça baiana e criadora. Segundo dizia Sérgio Porto, a música de Caymmi muito deve a essa preguiça, ou melhor: a esse tempo de lazer de medida tão larga, esse tempo baiano. De tudo isso posso dar testemunho, pois nesses 30 e tantos anos eu o vi compor sem descanso, mas sem pressa, vi também nascer e crescer a maioria de suas composições mais famosas. Em minha casa – em várias das casas onde vivi – ele trabalhou e criou. Jamais espicaçado por compromisso ou intenção imediatista.

Para Caymmi a moda não existe. Eu posso dizer, posso testemunhar como ninguém. Juntos andamos um bom bocado de caminho, juntos criamos alguma coisa, juntos começamos a envelhecer. Juntos fizemos teatro, cinema, tratamos o livro e a partitura, tocamos a vida e o amor. Amizade de toda a vida, “meu irmão, meu irmãozinho”.


O escritor Jorge Amado publicou este texto, com o título O poeta e o mar, na coleção Nova História da Música Popular Brasileira (Abril Cultural, 1970).