Bem vindos ao Varal da Poesia

O Varal da Poesia é um projeto que visa promover a cultura brasileira em forma de poesia. É um instrumento de identidade do povo brasileiro, resgatando nossas raíses. Podendo assim aprimorar, incentivar e enriquecer a cultura brasileira por todo o planeta. O Varal da Poesia, é o acúmulo de anos de trabalho árduo no incentivo da cultura brasileira no exterior em tempos em que a cultura brasileira despontava lentamente em pontos isolados dos Estados Unidos da America. É o resultado e realização de um sonho em poder promover a cultura brasileira para todo o planeta. Envie suas poesias, poemas, crônicas, contos, ensaios, duetos, cordel, cirandas, frases, prosas, sonetos, trovas, cartas, acrósticos, cartas… para avaliação incluindo dados do autor. Esperamos contar com a honestidade do autor respeitando os direitos autorais e enviando obras de sua propria autoria . O Varal da Poesia nao se responsabiliza pela autenticidade de obras enviadas.varaldapoesia@gmail.com

sábado, 22 de agosto de 2009

Num Monumento à Aspirina - João Cabral de Melo Neto



Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda a hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia...


sábado, 15 de agosto de 2009

Difícil ser funcionário - João Cabral de Melo Neto



Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.

Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.

É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.

Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.

Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.

E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.

Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança

Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...

Carlos, dessa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho.

*Extraído dos "Cadernos de Literatura Brasileira", nº. 01,

publicado pelo Instituto Moreira Salles em Março de 1996, pág.60.